Literatura Afro-Brasileira: o movimento de inclusão de autores negros na Literatura

Lima Barreto

A invisibilidade ainda paira sobre a literatura produzida pelo negro e mesmo que reconheçamos que houve algum avanço nas últimas décadas, ainda vigora uma desproporcionalidade nesse âmbito. Apesar do aumento da demanda por uma maior presença de obras de escritores afro-brasileiros nas prateleiras das livrarias, ou seja, uma literatura que reflita a vivência e as questões sociais, políticas e culturais do negro no Brasil, o mercado editorial ainda não se abriu totalmente à publicação da obra deste, havendo até mesmo certa resistência à existência de uma literatura afro-brasileira.
A propagação do mito da democracia racial, que se alia ao conceito de que no Brasil há uma só literatura, a Literatura Brasileira, que teoricamente contemplaria a todos, é uma das causas do problema. Ao não se compreender e não se sensibilizar com a necessidade de se dar visibilidade a uma literatura que reflita a vivência do negro em uma sociedade que ainda não o incluiu amplamente e em que ainda há a presença de um forte racismo estrutural, se desestimula a publicação e a divulgação dos autores que atendam a essa demanda social. A consequência disso é que a sociedade se vê privada do acesso a uma quantidade considerável de autores negros de qualidade, pois pouca é a presença destes nas estantes das livrarias e nos nichos de publicação das grandes editoras. Tal cenário acaba por revelar não somente a resistência em se reconhecer a importância da divulgação do trabalho intelectual afro-brasileiro, mas, também, a ideia racista que fica implícita de que “coisa intelectual não é coisa de preto”.
O fato de Machado de Assis, o maior escritor brasileiro, ser negro, só agrava o absurdo da situação, por constatar-se o uso oportunista da figura de negros que já obtiveram a consagração no cânone literário. Não basta a publicação e divulgação de autores já consagrados, como Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Sousa, Solano Trindade e Conceição Evaristo. A presença negra nas estantes das livrarias, físicas ou virtuais, não pode se limitar ao autor negro que, depois de duras penas e mil portas fechadas, atingiu a consagração (essa à despeito das editoras, haja vista a própria biografia de Lima Barreto, que em vida só conseguiu ser publicado pagando ele mesmo suas edições), esse tipo de presença (importante, mas diminuta em face do que nós produzimos) parece ação marqueteira para dar boa imagem a grandes grupos editoriais, já que a história destes, no passado, um passado evidentemente racista, pode acarretar grandes problemas, atualmente, por força da ação contundente dos movimentos sociais que lutam por maior representação do negro na sociedade.
Desse modo, é preciso investir nos autores ainda não conhecidos, justamente aqueles que não encontraram espaço nos meios editoriais para a sua voz fosse ouvida. É preciso ressaltar que a maioria desses novos talentos provêm da periferia e são escritores que dificilmente teriam a possibilidade de custear uma publicação sozinhos (hábito comum no cenário atual, àqueles que podem). Um bom caminho para isso têm sido as antologias. Inclusive, foi com a antologia Cadernos Negros, publicada anualmente em 1978, que a literatura afro-brasileira alcançou um patamar de divulgação que não seria possível somente com a dependência de grandes editoras, revelando toda uma geração de grandes autores, num trabalho que segue incansável até hoje. No entanto, ainda não é o bastante, além de surgirem novas antologias, a literatura afro-brasileira deve tomar as livrarias e alcançar um volume maior de publicações, rompendo obstáculos, quebrando barreiras e conquistando espaços antes interditos aos escritores negros; um dos caminhos para isso é a formação de um público leitor que compreenda a literatura também como ação política e como instrumento de mudança social, como nova página da trajetória da literatura brasileira.

Obras de Pedro Paulo Machado:

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